A juventude dos anos 40 tinha ídolos extremistas como Stalin ou Hitler, mas também líderes ponderados como Churchill e Roosevelt. Cada geração tem os ídolo que merece para bem e para mau pois é assim que a humanidade caminha: uns escolhem o bom caminho e outros o mal.
Mas a juventude de hoje praticamente só tem ídolos que dão mau exemplo. E as ideologias desviadas entram no lar brasileiro cada vez mais disfarçadas de maneira inocente. Uma dos aspectos mais nocivos da atual cultura jovem de hoje em dia é o verdadeiro culto quase religioso que se faz em torno da abjeta figura do personagem Seu Madruga.
Originário do seriado Chaves (uma produção medíocre, mal escrita e mal interpretada da televisão mexicana, na qual adultos interpretam crianças e as piadas repetem-se ad nauseum), Seu Madruga é um sujeito pobre, que usa roupas sujas e esfarrapadas, um bigode mal aparado e não trabalha em absoluto.
Seu Madruga claramente embriagado em uma das várias cenas nas quais fica subjacente a idéia de adultério por parte de Dona Florinda.
Seu Madruga começa dando seu mau exemplo ao mostrar que é possível viver sem trabalhar, e ainda viver alegremente. Um de seus bordões é a frase “Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar”. Ele tem uma filha mas não produz nada e nem ganha salário ou pensão alguma, o que deixa margem para imaginarmos do quê a família vive e como ele alimenta a jovem de nome Chiquinha, uma pré-adolescente problemática que é constantemente vítima da violência do pai, aparecendo, após levar surras, com almofadas a cobrir suas nádegas certamente feridas pela violência paterna. Além do fato de o personagem Madruga claramente descontar suas frustrações no corpo da filha, antes de cada fustigação há um momento no qual a garota chora pela expectativa da violência, um recurso de linguagem televisiva com óbvio cunho sadomasoquista, que deve apelar a parte do público do seriado (a referida jovem é interpretada por uma atriz adulta com um rosto bastante desfigurado pela maquiagem, mas belas pernas).
Seu Madruga não trabalha e vive de pequenos expedientes, referidos em certo episódio como “trambiques”, pela própria Chiquinha (que já aprende com o pai a vida na malandragem). Mas este estilo de vida só é possível porque Madruga recorre a truques desonestos, como fugir pela janela quando o senhorio da vila aparece para cobrar-lhe o aluguel (eternamente atrasado em 14 meses). Os golpes, fugas e enganações de Seu Madruga são sempre cômicos e ressaltados por uma música que denota o caráter infantil de tais práticas criminosas, como se a prática da falsidade ideológica, charlatanismo e a mentira fossem meras traquinagens, e lesar o público, o senhorio e burlar as leis fosse nada mais que uma travessura.
Seu Madruga, usando suas habilidades de lábia para mais uma vez enganar o Senhor Barriga, retratado como o burguês típico: ganancioso, desumano e ao mesmo tempo, mentecapto, fácil de se enganar.
Não bastasse Seu Madruga ser indolente (o que ensina à juventude que o trabalho não é importante para quem é “legal”, “malandro”), desonesto (mostrando que as malandragens, crimes e enganações são aceitáveis e até divertidos), violento (sem que tal violência tenha conseqüências), e sujo (apesar de não aparentar ter problemas de saúde pela falta de banho), ainda o personagem é visto constantemente alcoolizado, na televisão, em canal de grande repercussão, em horário no qual as crianças e adolescentes assistem inocentemente ao que vem pela tela.
Seu Madruga é constantemente espancado pela personagem Florinda, uma viúva arrogante que simboliza, obviamente, a classe média e o conservadorismo devidamente vilanizado pelo seriado que tem claras inclinações esquerdistas, exaltando a figura do vagabundo, do mendigo, do rebelado.
A visão sobre a educação, inculcada na juventude através de Madruga é também digna de análise pela peculiaridade. Em determinado episódio o professor Girafales, personagem caricato que simboliza um professor retratado como um romântico, mal pago e idiota que tenta ensinar diversas coisas sobre assuntos absolutamente inúteis aos alunos que não lhe dão a mínima importância, precisou sair da sala de aula e deixou seu extremo oposto, Seu Madruga. Oposto porque enquanto Girafales é honesto, bem vestido, limpo, trabalhador, ordeiro e culto, Madruga encarna o sujo, desocupado, esfarrapado, desonesto. A despeito disso Girafales é quem sempre acaba na condição de perdedor enquanto Madruga safa-se rindo das maiores dificuldades e “enrascadas” imagináveis.
Seu Madruga em diversos momentos de sua aula na qual humilhou o professor padrão, mal pago, bem intencionado, culto e honesto.
Neste episódio no qual Madruga fica tomando conta da sala de aula, Girafales aparece conduzindo uma aula sobre a qual não consegue manter o controle, já que os alunos não lhe dão atenção e nem o devido respeito. Já Madruga, uma vez investido no papel temporário de “professor”, passa a explicar assuntos supostamente muito mais úteis do que História, Geografia ou Álgebra, assuntos ligados à vida cotidiana das crianças e permeia suas explicações com atuações dignas de teatro infantil, mas aplaudidas inclusive pelo próprio Girafales como “brilhantes”. O conhecimento empírico adquirido nas ruas e limitado a conhecimentos de baixíssimo nível de complexidade triunfa sobre os valores culturais corretos que Girafales vinha tentando passar aos jovens. O vagabundo, o burlesco, o negativo, resulta triunfante neste episódio. Mais uma vez repetindo, em horário no qual as crianças e adolescentes cujas mentes estão em formação assistem a tudo e aprendem toda essa errônea mensagem.
Não bastassem todos os exemplos negativos inculcados à juventude pelo próprio personagem Madruga no seriado Chaves, erigiu-se ainda em torno dele um culto que dentre outras coisas funde sua imagem em camisetas e imagens na “Internet” ao terrorista Ernesto Che Guevara, traidor de sua própria pátria e assassino serial de opositores em Cuba, derrotado pelas forças da paz e da ordem legal na Colômbia, outro ídolo muito adotado pelos jovens hoje em dia. E o mais dolorido nisso tudo é que ao contrário dos jovens de antigamente que tinham diante de si exemplos radicais e malignos como Hitler ou Stalin mas ao mesmo tempo tinham um Churchill, um Roosevelt, os de hoje só tem os exemplos para mau, para baixo. E toda a malignidade desses personagens adorados pela juventude deturpada não possuem a clareza em sua maldade como possuíam os ditadores do passado porque são personagens cômicos ou românticos cujas maldades são sempre divertidas ou justificadas e seus traços mais nefastos de caráter são apresentados como elementos de uma alegre imbecilidade a ser celebrada, copiada e eternizada por toda uma geração de futuros adultos.